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Boa Vista tenta vencer impactos da imigração na primeira infância

Um dos reflexos mais impactantes da crise imigratória em Boa Vista aconteceu na área da saúde. A principal vítima do descontrole demográfico foi a primeira infância, cuja faixa etária vai até os seis anos.

Por SEMUC

07/02/2020

Um dos reflexos mais impactantes da crise imigratória em Boa Vista aconteceu na área da saúde. A principal vítima do descontrole demográfico foi a primeira infância, cuja faixa etária vai até os seis anos. Entre 2015 e 2017, os atendimentos de estrangeiros no Hospital da Criança Santo Antônio (HSCA) tiveram um aumento significativo. Hoje, eles representam 70%. Outra consequência foi o crescimento de 92% nas consultas pré-natal até 2018.

A corrida de estrangeiros à capital roraimense causou um impacto nas finanças da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que tem orçamento próprio. Em maio, junho e julho de 2018, as UBS de Boa Vista, juntas, fizeram 213.554 procedimentos. No mesmo período de 2019, esse número saltou para 323.711, um aumento de 34%. O resultado é a falta de material e de leitos, além de pacientes internados nos corredores do hospital.

Some-se à demanda venezuelana, a procura de moradores da Guiana, de Barcelos (Amazonas) e de comunidades indígenas do estado por atendimento no HCSA. De acordo com Laudiceia Barros, diretora de Emergência da unidade, pacientes com doenças de pele, desnutrição e câncer se tornaram frequentes. Houve ainda o aumento na emissão de TFDs (Tratamentos Fora de Domicílio).

Meses de Pico – Conforme a direção do HCSA, de maio a setembro, frequentemente meses de chuva intensa, se registra uma demanda maior de pacientes devido às doenças sazonais intensificada após quatro anos de uma permanente imigração de venezuelanos.

Um dado se revela assustador: este ano foram registradas, até outubro, pelo menos 162 mortes. Os meses com maior número de ocorrências de óbitos foram junho, julho e agosto (31, 28 e 31, respectivamente).

A “explosão” de atendimentos começou em outubro de 2017, conforme relata a diretora da unidade, Mareny Damasceno. O sinal de alerta se acendeu em fevereiro de 2018, quando foi registrado o primeiro caso de sarampo, doença até então erradicada do país. Esse conjunto de fatores fez a taxa de mortalidade infantil subir de 3%, em 2015, para 11% em outubro de 2019.

Dados fornecidos pelo Município, no recém-lançado “Observatório da Gestão Pública”, revelam que o número de óbitos de crianças menores de um ano, por mil nascidos vivos, saltou de 12, em 2013, para 15,23 em 2019, considerando para este ano que as estatísticas são parciais e compreendem de janeiro a agosto. As mortes de crianças até um ano de idade subiram de 76 em 2013 para 101 em 2019, sendo que em 2018 foram 110.

O Observatório, com base em dados do Ministério da Saúde, aponta que a taxa de mortalidade infantil em Boa Vista tem sido influenciada por fatores como internações por patologias que demandam tratamento prolongado. Também contribuem o aumento de internações de crianças com desnutrição grave e a situação de pobreza de indígenas e venezuelanos que moram na rua ou não têm como retornar às suas aldeias e permanecem no HCSA por até um ano.

Um exemplo disso é a venezuelana Darlene Marques, que está com a filha internada desde 16 de novembro. A criança, de apenas dez meses, entrou na unidade com diarreia e vômito. Darlene não tem casa. Também não está em nenhum dos 11 abrigos mantidos pela Operação Acolhida. Sua morada, por enquanto, é a Rodoviária Internacional de Boa Vista.

Uma das iniciativas do Município para “blindar” a primeira infância dos impactos da crise migratória é o Família Que Acolhe (FQA), que há seis anos tem como meta cuidar da criança desde a gestação até os seis anos de idade. “O Família Que Acolhe é plano de governo”, destaca a prefeita Teresa Surita.

Em 2013, havia 806 beneficiárias do FQA. Um ano depois, esse número saltou para 2.135. Em 2016, houve um pico de 3.126 famílias asssistidas, com uma queda acentuada em 2017 para 1.978, retomando o crescimento em 2018 e 2019, que tiveram, respectivamente, 2.859 e 2.611 beneficiárias, conforme dados do Observatório da Gestão Pública.

Matéria vencedora em 2º lugar no 1º Infothon - Por Luiz Valério da Silva e Érico Veríssimo Gomes de Almeida